A imunologia reprodutiva é um segmento da medicina que investiga os aspectos envolvidos no reconhecimento imune materno durante a gestação e suas implicações. Há 3 grandes grupos de pacientes que merecem investigação imunológica: grupo de abortamento recorrente (3 ou mais abortamentos), infertilidade sem outra causalidade conhecida e falhas recorrentes de implantação (3 ou mais falhas de tratamento de fertilização in vitro).
Cerca de 15% das gestações terminam espontaneamente em abortamento. São descritos como causas destes abortamentos, fatores genéticos, infecciosos, anatômicos, hematológicos, endocrinológicos e imunológicos.
Do ponto de vista imunológico, deve ser realizado o rastreamento das causas específicas que possam estar impedindo a gravidez, por exemplo, investigação de alterações auto-imunes da mulher (doença da tireóide, artrite reumatóide, lupus eritematoso, esclerose múltipla, entre outras), pesquisa de tendências genéticas ou adquiridas de tromboses/trombofilias.
Ehlers et al 2000. Genome research 10:1968-1978 |
Abortamento recorrente é definido como três ou mais perdas gestacionais antes de 20 semanas ou feto com peso inferior a 500 gramas. Aproximadamente 15% de todas as gestações diagnosticadas terão evolução para aborto espontâneo entre 4 e 20 semanas. Entre as principais causas descritas para o abortamento recorrente temos as etiologias genéticas, endócrinas, anatômicas, infecciosas, hematológicas (trombofilias) e imunológicas.
Formação de Trombos |
As trombofilias podem ser divididas em dois grupos: as adquiridas e as hereditárias. No grupo das trombofilias adquiridas destaca-se a síndrome antifosfolípide (SAF) e dentre as trombofilias hereditárias, as mais freqüentes na população são:
- Mutação do Fator V de Leiden
- Mutação do Fator II (Protrombina)
- Mutação da Metilenotetrahidrofolato Redutase (MTHFR)
- Deficiência de Proteína C e S e Anti-Trombina III
• Insuficiência placentária / restrição de crescimento intra-uterino
• Óbito fetal
• Pré-eclâmpsia
• Prematuridade
• Descolamento prematuro de placenta
Cerca de 30% das pacientes apresentam história familiar positiva para abortamento e/ou histórico de trombose (acidente vascular cerebral, infarto agudo do miocárdio, trombose venosa profunda, entre outros). No que tange a mutação da MTHFR, há possibilidade de cromossomopatias, principalmente Síndrome de Down e de alterações morfológicas como lábio leporino, devido ao comprometimento do metabolismo do ácido fólico no caso da mutação homozigota.
A terapia anticoagulante (heparina de baixo peso molecular) a partir do resultado positivo do HCG aplicado caso a caso e suplementação do ácido fólico são medidas que podem alterar o curso destas trombofilias. Diferentes protocolos de anticoagulação foram preconizados dependendo da trombofilia diagnosticada.
A avaliação hematológica através da anamnese dirigida, história familiar e análise laboratorial é de extrema importância na abordagem de pacientes com histórico de abortamento recorrente. As trombofilias hereditárias não são tão raras uma vez que estas passem a fazer parte do rol de investigação neste grupo de pacientes.
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